quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Estudante de 16 anos defende legitimidade de ocupações e humilha deputados

O analfabeto político

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

(Berthold Brecht)



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Sobre os (des)encontros da vida

Estamos vivenciando um período de ocupação das escolas da rede estadual por parte dos educandos. Essa ação foi motivada por uma série de questões (que não cabe aqui serem discutidas, mas que podem servir de pano de fundo para outra postagem).
Tive a oportunidade de visitar uma unidade educativa ocupada, na ocasião eu tinha sido convidado para ministrar a oficina: “Consciência corporal: corpo e política”. Me senti entusiasmado pelo convite, pois havia nele uma carga de seriedade, de vontade e desejo de mudança, que há tempos não via emanar em uma manifestação. Me organizei para a ação e no dia marcado estava eu lá.
Tinha no grupo umas 30 ou 40 pessoas entre educandos, educadores, estudantes universitários, militantes e demais pessoas que se identificaram com a ação de ocupação. O início da oficina ocorreu de maneira meio tímida e enigmática, porém aos poucos os vínculos foram sendo estabelecidos e as coisas foram acontecendo. A proposta da oficina era realizar um trabalho corporal, com aquecimento, jogos criativos e criação coletiva, atrelados a uma discussão sobre a importância da consciência corporal para as relações sociais e da expressão corporal enquanto ação consciente transformadora, reflexiva e coletiva.
O final da oficina foi com a apresentação de uma dança criativa coletiva, realizada em grupos e com uma roda onde fizemos um feedback da oficina, sobre posicionamento político e sobre a importância daquela ocupação para aquele grupo. O que me deixou mais impressionado não foi a maneira em como as coisas aconteceram, nem a sinergia do grupo, nem o desejo do grupo de vivenciar o processo da maneira mais intensa e consciente possível. O que me deixou em estado de êxtase foi a maturidade e a compreensão que o grupo demonstrou durante a finalização da nossa oficina. A relação que cada um fez da experiência vivida com a importância do fortalecimento coletivo e com a importância da consciência clara nas práticas e nas propostas de resistência e de manifestações políticas e sociais. Aquela tarde de sábado me deixou mais desejoso e provocado, ser acolhido num território antes estranho e por pessoas estranhas, que compactuam dos mesmos desejos e das mesmas ideias só me fez fortalecer a vontade de resistir, de compartilhar e de se expandir.

Ao finalizar a oficina eu juntei minhas coisas, cumprimentei o grupo e fui embora sabendo que um pouco de mim havia ficado ali e um pouco da cada um que esteve lá estava indo comigo, afinal de contas eu não sou somente eu, mas sou milhares em mim, formado pelos (des)encontros da vida.

Projeto Território do Brincar - 3º Região - Território Indígena Panará, Pará

Falar sobre o brincar é falar da essência das culturas das infâncias, sobre a capacidade peculiar da criança em compreender a complexidade das relações sociais e do mundo que a cerca, é falar também sobre a linguagem nata que ela tem para se expressar e para fazer um mergulho para dentro de si, para dentro de suas organizações internas e mais íntimas, pois: "As culturas infantis são formas que as crianças constroem de se expressar em diferentes linguagens, muito próprias, sendo uma delas o brincar." (Pereira, 2014, p.20). O brincar não pertence a uma classe, não pertence a uma sociedade, não pertence a uma cultura. O brincar perpassa todas as estruturas sociais e faz com que a infância se afirme com uma categoria social peculiar presente em todas as culturas e em todas as sociedades.


Brincar de corpo inteiro é substituir a televisão o vídeo game e o computador

Estamos em comemorações da semana mundial do brincar, iniciativa da Aliança pela Infância desde 2009 e o que queremos é ver em todos os cantos do país a mobilização de pessoas para o incentivo e o fomento da importância do brincar para nossas crianças. 
Há dois anos tive a oportunidade de participar de um projeto voltado para a promoção e defesa do direito de brincar. Durante doze meses fazemos uma imersão profunda em uma proposta educativa totalmente transformadora.

Dessa experiência nasceu um artigo, que é o material que compartilho aqui. Espero que gostem e que possa contribuir de alguma forma:

As crianças vivem em uma sociedade que está em constantes e profundas transformações. As mudanças sociais fazem com que novos valores surjam em detrimento de outros que se configuram para responder às necessidades dos diferentes grupos. Vale ressaltar que quando falamos em crianças, as intuições, setores, segmentos e grupos sociais devemos compreender uma nova (re)configuração para considerarmos nas discussões sobre a importância da infância.
Reconhecer a criança cidadã, como sujeito de direitos, e a infância como uma categoria social, é desenvolver ações que efetivem aquilo que a lei assegura, em especial o desenvolvimento de políticas públicas para o direito ao brincar. O artigo 227 da Constituição Federal de 1988 e o artigo 16 do Estatuto da Criança e Adolescente também trazem em seu escopo a documentação da garantia dos direitos da criança, dentre eles o direito ao brincar.
A primeira normativa que atribui direito às crianças e adolescentes nasce com a Declaração de Genebra de 1924, documento no qual é assegurado à crianças e adolescentes o direito à proteção. Essa normativa é ampliada na Declaração Universal dos Direitos da Criança (DUDC) de 1959. O artigo 31 da DUDC fundamenta, reconhecidamente enquanto direito, o brincar. Porém a consciência sobre esse direito precisa ser ampliada por meio de propostas que qualifiquem o processo de desenvolvimento da criança e o fortalecimento das ações sociais, para que ocorram profundas mudanças nas políticas públicas, no contato com a natureza e na segurança das crianças para que as promoções de seus direitos tenham investimentos adequados à sua execução.
Ao mencionarmos os adultos, relembramos que o papel da família e as mudanças em sua configuração, trouxeram novos papéis para os atores sobre as questões a serem pensadas tanto pela família, quanto pela sociedade. A criança que antes tinha tempo, liberdade e espaços variados para brincar, agora passa a ocupar, cada vez mais cedo, um lugar fixo e institucionalizado, onde passa a maioria do seu tempo. Por ser institucionalizado esse espaço tem como premissa o papel de cuidar e ensinar. Por outro lado, algumas famílias substituem a falta de tempo, pelo computador e pelo vídeogame. Diante dessa nova realidade surgem questões que suscitam profundas reflexões acerca da função da família e da Educação Infantil na responsabilidade pela criança. Qual é o papel da família e o papel da mídia eletrônica, diante do pouco tempo e da ausência de espaços com qualidade para que a criança possa brincar? Quais são os benefícios e os malefícios de oferecer à criança (somente) brinquedos tecnológicos e de multimídias?
O brincar e as mídias podem possibilitar o desenvolvimento cognitivo, o da subjetividade, do raciocínio e da imaginação. Contudo, o excesso do tempo dedicado ao uso das plataformas digitais prejudica as oportunidades da criança de recrear-se e participar de atividades lúdicas e artísticas. Ressaltamos também que corporalmente, a criança está passiva e exposta podendo prejudicar a integridade da sua saúde. Segundo o Plano Nacional pela Primeira Infância: “Quando uma criança brinca, ela entra em contato com suas fantasias, desejos e sentimentos, conhece a força e os limites do próprio corpo e estabelece relações de confiança com o outro” (2010, p. 52). Além do crescimento subjetivo, a criança está também em constante evolução biológica.  O corpo é um registro vivo das ações do indivíduo sobre a vida e sobre o mundo e também das ações da vida e do mundo sobre o indivíduo. O corpo é presença, é por meio dele que a criança se apresenta ao outro e à existência. Se o corpo representa a criança diante da vida, ele precisa estar submerso nas diversas situações desafiadoras e promotoras de desenvolvimento, não em detrimento à expansão do subjetivo, mas contemplando a ideia de que, enquanto linguagem específica, o brincar, em suas diversas manifestações e dialetos brincantes é desafiador e fomenta o (des)envolvimento da criança em toda a sua integralidade.
Brincar de corpo inteiro é meio e fim, é o ponto de encontro da criança com ela mesma e com seus pares, é o ponto da resolução de seus conflitos e do confronto com seus medos, é o fio que desata os segredos e os mistérios da vida e das coisas. Brincar de corpo inteiro é o movimento dialógico, próprio das infâncias, que possibilita descobertas e aprendizados, é o alimento do imaginário e o desdobramento do desenvolvimento biológico e motor que está para além da própria “fisio lógica”. É uma dança externa que também organiza a internalização das coisas e dos saberes. Brincar de corpo inteiro é fazer desse corpo em desenvolvimento o templo de uma essência latente e vivaz.
(Por Leandro Aparecido da Silva)